A Democracia da Abolição
Um guia de estudo do livro de Angela Davis “A Democracia da Abolição: para além do império, das prisões e da tortura”
Resumo, parte 3
Pensando em soluções
O que é a abolição das prisões?
Então qual a solução para o complexo industrial-prisional? Abolição das prisões e democracia da abolição. A abolição das prisões não é o desmantelamento isolado de presídios e cadeias, mas “uma forma de discutir os problemas da versão particular de democracia representada pelo capitalismo norte-americano.”
Davis se refere à teoria de W. E. B. DuBois, que articula que a abolição das prisões não é apenas o processo negativo de demolição, mas também o processo de construção de novas instituições democráticas que não necessitam das prisões.
Davis vê a abolição das prisões “como um projeto que envolve reimaginar instituições, ideias e estratégias, e criar novas instituições, ideias e estratégias que tornarão os presídios obsoletos.” Ela afirma que “cabe a nós insistir na obsolência do encarceramento como forma dominante de castigo, ( ...) reivindicando novas instituições democráticas que discutam os problemas que nunca são discutidos pelos presídios de maneira produtiva.”
O que é a democracia da abolição?
Para Davis, a verdadeira democracia não pode existir sem a democracia da abolição. Novamente se referindo à DuBois, a democracia da abolição inclui três formas de abolição: a abolição da escravidão, a abolição da pena de morte, e a abolição das prisões.
A escravidão não pode ser verdadeiramente abolida até que os meios econômicos que possibilitem sua subsistência sejam fornecidos às pessoas negras. De acordo com essa definição, a escravidão não foi totalmente abolida por que comunidades negras não foram fornecidas tais meios por causa de, entre outros pontos, o complexo industrial-prisional.
A pena de morte, que encobriu o racismo após a escravidão ter se tornado ilegal, e o complexo industrial-prisional perpetuam a ideia de que a morte e o encarceramento são formas válidas de punição. No entanto, Davis argumenta que esse não é o caso. Quando pensamos em abolição no contexto de democracia da abolição, ela propõe a criação de instituições sociais que resolvam os problemas sociais que levam as pessoas à prisão e que “tornarão os presídios obsoletos”.
Como se organizar.
Ao longo do livro, Davis fornece alguns conselhos sobre como se organizar para a democracia da abolição. Davis diferencia organização e mobilização. Ela argumenta que a mobilização (a habilidade de conquistar as massas) tem, infelizmente, se sobressaído à organização (a criação de um movimento que se sustente além de manifestações).
Seu maior conselho é que todos devemos experimentar- ao criar algo novo, ninguém sabe o que vai ou não funcionar ou a direção que as coisas irão tomar. Ela diz: “Eu acho que a melhor maneira de entender o que deve funcionar é simplesmente fazê-lo, a despeito dos erros potencias que se pode cometer.”
Visite o guia de estudo "Connected Movements" do Radical in Progress sobre o livro "A liberdade é uma luta constante" de Angela Davis.
Lutas conectadas
Davis também aborda a questão da Guerra do Vietnã, que estava ocorrendo no momento de sua prisão. Durante seu ativismo na década de 70, ela e outros viram a conexão entre a guerra nacional contra o racismo com a guerra contra o fascismo no exterior. A polícia, por exemplo, agiu furtivamente, como soldados em combate.
Com a conexão entre essas duas lutas, surge o questionamento de como alguém participa no movimento antiguerra ao mesmo tempo em que se opõe a estratégia de tratar a paz como uma questão que não se relaciona à igualdade racial. Davis enfatiza que qualquer luta pela democracia da abolição deve incluir e aprender com lutas relacionadas contra, por exemplo, o fascismo.
Bibliografia
DAVIS, Angela. A democracia da abolição: para além do império, das prisões e da tortura. Tradução: Arthur Neves Teixeira. 2. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2019.
Nós baseamos esse guia de estudos na versão digital do livro, por isso não listamos as páginas das citações.
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