A Democracia da Abolição
Um guia de estudos do livro de Angela Davis “A Democracia da Abolição: para além do império, das prisões e da tortura”
Resumo, parte 2
O Complexo Prisional e Militar em contextos modernos
Davis argumenta que o complexo industrial-prisional se duplicou na guerra do terror que ocorreu após o atentado de 11/09 “a fim de desviar a atenção da realidade doméstica diária de tortura e coreção sexual.”
Tortura
Uma maneira de perceber a interação desses dois complexos é na prevalência de tortura nas prisões de Guantánamo e de Abu Ghraib, as quais alojavam prisioneiros estrangeiros que acreditavam ser parte do que a administração do Presidente George H. W. Bush apelidou de “guerra ao terror”. Os atos abusivos de tortura e coerção sexual que o publico se horrorizou nesses centros de detenção “emanam de técnicas de castigo altamente incrustadas na história da instituição prisão.”
Em torno da época de publicação do livro, fotos de tortura nas prisões de Abu Ghraib e de Guantánamo haviam sido liberadas. Davis passa alguns momentos articulando sobre a relação entre essas fotos de Abu Ghraib e as fotos dos linchamentos que ocorreram na história estadunidense.
As fotos dos linchamentos, afirma Davis, eram elementos que comemoravam as reuniões de celebração a Jim Crow, a pena capital e a opressão ao corpo negro. Isso era realizado em público, enquanto, hoje em dia, a tortura é escondida atrás dos muros dos presídios.
Tortura e execuções mudaram da esfera pública para a esfera privada.
Davis também argumenta que, por que a administração de Bush marginalizou certos prisioneiros e os indicou como terroristas em resposta ao 11/09, eles colocaram os cidadãos em uma posição de ter que se distanciar da dor dos outros. A maneira que o público interage com a tortura reafirma, defende e reforça a ideia que a democracia estadunidense existe para proteger a nação contra ameças externas à democracia.
Coerção Sexual
Outra maneira que o complexo prisional e complexo industrial militar se manifestam no contexto moderno é através da coerção sexual. Davis argumenta que a coerção sexual (isto é, abuso sexualizado para o controle social) é considerada como um aspecto normal e rotineiro da punição feminina, tanto em presídios domésticos quanto em tempos de guerra.
Nesse sentido, no contexto da guerra ao terror estadunidense, a coerção sexual foi usada como uma maneira racista de punir prisioneiros Árabes, do Oriente Médio e Mulçumanos. A presença de torturadoras nos centros de detenção também foi documentada. Elas estavam, por exemplo, vestidas de dominatrix e lambuzando sangue menstrual em prisioneiros com cultura Islâmica, sobre a suposição de que eles são inerentemente mais sexistas do que os homens das chamadas culturas ocidentais.
Davis também pontua que a presença de torturadoras não representa o feminismo e a igualdade de gênero. Apesar das mulheres estarem ocupando novos espaços, eles estão em instituições que dependem de ideologias de dominância masculina- as forças armadas, como exemplo.
Simplesmente adicionar mulheres à instituições falhas não significa igualdade de gênero, mas sim “oportunidades iguais de matar, torturar e ocupar-se de coerções sexuais”. Davis argumenta que isso não nos aproxima da democracia ou justiça e pontua que uma abordagem mais produtiva ao feminismo deve considerar “refletir mais precisamente sobre as formas de socialização e institucionalização e sobre o grau em que esses moldes e estratégias misóginas estão disponíveis para mulheres, assim como para os homens”.
Rendição extraordinária
Tanto o complexo industrial-prisional quanto o complexo militar-industrial praticam rendição extraordinária. Nas forças armadas, a rendição extraordinária se refere ao processo de transporte de prisioneiros a serem interrogados para outros países porque eles têm regras mais brandas em torno do uso da tortura. No complexo industrial-prisional, isso se refere à transferência de presos para estados com sistemas prisionais com regras mais flexíveis. As pessoas nos Estados Unidos não acham que uma rendição extraordinária ocorra dentro das fronteiras americanas, mas ela ocorre.
Bibliografia
DAVIS, Angela. A democracia da abolição: para além do império, das prisões e da tortura. Tradução: Arthur Neves Teixeira. 2. ed. Rio de Janeiro: Difel, 2019.
Nós baseamos esse guia de estudos na versão digital do livro, por isso não listamos as páginas das citações.
Apoie a autora
Conheça e doe para Critical Resistance, a organização de Angela Davis
Leia seus livros, uma coleção que você pode encontrar aqui